Seria hipocrisia dizer que fiquei chocada. Somos tão iguais. E talvez, por isso mesmo, incomode tanto. Estamos ali presentes naquelas pessoas em alguma parte da nossa história, em algum momento da nossa submissão, da nossa necessidade de ficar quieto e de esperar que Deus nos ajude. Somos iguais no choro engolido, no sonho esquecido, no silêncio que nos acompanha. Não tivemos tanta dor, é certo. De certa forma somos o irmão “bem sucedido”, quase um filho pródigo. Não sabemos nada dessas dores que nos subjulgam por décadas, dessas guerras que machucam e matam, desses ventos de horror que amontoam pessoas em busca de abrigo, mesmo que seja em um buraco. Não sabemos nada desses salvadores que ajudam e nos exploram e nos cobram infinitamente por algo que não pedimos.
Mas existe algo no olhar que nos aproxima, que nos dá orgulho desta igualdade indefinida. Sentimos um orgulho mútuo, por motivos tão diferentes… Somos recebidos quase que com festa, nos estendem sua história contada nos rostos marcados e na esperança dos olhos sorridentes. Sermos irmãos, sermos parecidos lhes enche de orgulho. Nem somo tão especiais assim, temos tanto para aprender com eles, mas eles não sabem disso. Ou talvez saibam. E só nos deixem sentir este sentimento todo para não estragarem a nossa estima.
Voltei mais negra por dentro. Voltei com a alma enrolada em panos coloridos carregando um filho esperançoso nas costas. Voltei com outro batuque nos ouvidos, com outros aromas na lembrança. Voltei menos contemporânea do que saí. Nossa igualdade não está no século 21. Está no passado que não tivemos juntos.
Somos iguais, sim, na alegria e na esperança que cultivamos, na emoção que sentimos quando apertamos as mãos ou nos abraçamos, mesmo que dados rapidamente.
Somos iguais em tantas diferenças. Nunca pensei que eu fosse tão angolana.
1 Comentário para : LUANDA | ANGOLA | ÁFRICA
Querida Silvia,
assim como o seu olhar para fotografar, vc soube olhar o outro. Obrigada.
Senti como os brasileiros não apareceram na feira. Daí entendi o como nos protegemos em guetos. Odeio isto.
Somos todos iguais. Obrigada. Com meu carinho, Con